Nas drogas aquilo que não sou

O que não sou


Instalou-se a rotina.
O acordar de manhã e procurar formas para usar é só mais um dia de aflição e de correria iguais aqueles que já vivo á anos.


Os meus dias são nublados. Há alturas que o aperto que sinto é insuportável.


 Fico a pensar em tudo o que amo e que estou a negligenciar, penso vezes sem conta como sou eu capaz de fazer isto.


Estou perdido, estou mesmo fodido, estou preso num limbo de desespero, e todos dias perco mais a minha sanidade mental.


Tenho feito coisas que não quero pensar, tudo o que sou é aquilo que mais desprezo.


Agora tenho a certeza que já não há volta a dar. Ainda que sobreviva, tenho demónios e perdas que me atormentarão para sempre. Perdi demais.


Este aperto é uma doença, um cancro que me corrói, me despe de toda a humanidade, me arranca sentimentos de coragem, e a vontade de viver já não há.
Os meus movimentos são impulsionados pelo desejo de usar e já nada mais importa.


 Há anos que não me escorre uma lágrima, sou um calo, as ruas venceram e eu já não choro por casa.
Desisti de mim, rendi-me ás minhas falhas e já não tento mais. Aceito que fico por aqui.


O meu corpo padece e as doenças são a minha desgraça. A minha deformidade é tal que impressiono outros, não consigo quase andar, passaram-se meses que vivo assim, a minha roupa cheia de sangue seco cheira mal e os cartões da rua são os meus cobertores. Os bancos de jardim são a minha vergonha, quase não prego olho, sinto um medo vencido por uma falsa bravura para sobreviver a noite.  Tenho os pés em chagas ainda assim ando quilómetros como uma seta em busca do alvo, sempre com o mesmo propósito …usar


Comentários

  1. Força a todos que se identificam com o texto. Não julgo ninguém felizmente não me identifico. Mas haverá mesmo que não conheçam, pessoas que vos querem bem!

    -Aquele amigo que nunca conheceste

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  2. Fiz uma cirurgia no quadril em janeiro de 2018 sentia muitas dores intensas pós cirurgicas, começaram a me receitar metadona, os meus medicos nunca me disseram que ela era viciante, de fato a dor aliviava e hoje não tenho dores mais. Só que o pior aconteceu, fiquei dependente de metadona de tal maneira que se não tomo, não consigo, tomar banho, comer, dormir, viver. Sem a metadona sinto uma aflição, angustia , depressão infernal. Meu medico psiquiatra mandou parar de vez e começar a tomar socian, parei a uma semana, durante esse tempo tomei duas ou três vezes para não morrer de tanta tristeza.
    Preciso de ajuda . . .
    O que devo fazer? me render a metadona? esperar o socian começar a fazer efeito uma vez que só tem seis dias que estou tomando, ou me matar para acabar com esse calvario de vez?
    Aceito retorno e ajuda , tenho 35 anos sou escritor e moro em São Paulo. Brasil.11-986793659-ZAP-TIM!
    Muito obrigado!

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