O Natal do mundo da Droga
A minha Árvore de Vida
CONTO DE NATAL…
Durante anos fui sem abrigo por causa da Droga, desde que comecei um tratamento de Metadona deixei as ruas sujas e frias de Lisboa e as "compras" na meia laranja (Casal Ventoso), por uma vida de paz,cada ano que tem passado e este é o 3º tem sido uma luta, porque as pessoas do "mundo normal" também choram e lutam.
Agora com um filho de um
pai(eu),sóbrio e limpo cada item, cada lençol, cada toalha, os edredons, as
capas destes, enfim coisas tão simples e sem valor para uns e tão distantes
outrora para outros,a tinta das paredes, a louça, tudo , sim, tudo do zero, e a
casa lá se formou, cada um tem o seu quarto, o meu sonho era naquele Natal que
saí do centro de recuperação passado exactamente um ano 22 de Dezembro,
construir VIDA, e VIDA com o Amor do meu filho e de mim próprio ansiando um
Deus que sempre quis.
Fazer uma nova vida.
Passei lá um Natal a chorar e a pensar
os anos que desperdicei,tinha chegado ao meu fim de 100 kilos passei para 50 ,
cocaína e heroína eram a minha vida , tudo numa seringa e nunca chegava, (ainda
hoje acordo com pesadelos do mal que fiz, e das doenças que me acompanham como
tatuagens que não se conseguem apagar).
Mas, não estava só eu ali no centro da
Mãe D`agua da Santa Casa da Misericórdia, estavam ali outros presidiários ,
vigaristas , raparigas vinda dos países do Leste fugidas do mundo do tráfico
sexual, enfim mundos numa noite de Natal que ninguém quer se recordar, no
quente da mesa de frutos secos e iguarias tradicionais oferecidas pela caridade
de outros, fitava a janela e gelava-se-me a alma numa solidão imensa. Afinal
perdi Natais, e deveres de um pai egoísta, como uma espada que ainda hoje me
atravessa e quase não me perdoo-o. Bola pá Frente...HIV e outros foram a tua
herança, mundo que nunca imaginei, sim, porque não sou daquelas famílias de
bairro, aliás eu nunca deveria ter conhecido isto, nem nunca imaginei que um
dia anda-se à procura de prédios abertos e arrecadações vazias para pernoitar,
muito menos de anos assim, ainda hoje não sei como sobrevivi.
Enfim passaram-se 3 anos e este Natal
dei-me conta agora, desempregado típico português que À força, sim à força, assim ficou, que nunca
comprei a Árvore de Natal , e apesar de ter reunido condições, das quais um dia
pensei nunca mais alcançar, e de ter me preparado para a ceia digna ...ainda me
falta ...a ÁRVORE DE NATAL..mas...JÁ FALTOU MAIS , MUITO MAIS :) Por
isso....FELIZ NATAL
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