O que me tornou um toxicodependente ainda jovem
Bailei num falso feliz
porque amava e sentia vontade de mais.
Nunca eu imaginei as voltas que ainda ia dar de "cavalo".
Aquele semblante angelical,
de menino maroto mas sem maldade, até afável e simpático escondia pensamentos e
vontades de arrepiar.
Se alguém Imagina-se as vezes que eu me achei
poderoso e com nojo deste mundo e tudo e todos os que me rodeavam.
As vezes que
eu desejava um terramoto na minha cidade e sentir o cheiro da morte ao meu
redor ver o terror, o medo estampado no rosto das pessoas enquanto edifícios se
desmoronavam em cima destas, enquanto cantava sobre os seus corpinhos frágeis e
patéticos.
As vezes que me imaginei a destruir apenas pelo prazer de fazer
sofrer esta e aquela pessoa. Pessoas desconhecidas. Gente que mal algum me
fez. Apenas os aniquilava com o meu olhar, como se raios saíssem de mim, como
um vilão de livros de banda desenhada, o mau da fita. Sentia odio dentro de
mim. Hoje consigo ver que era tudo menos uma criança normal.
As noites para mim
eram lagos de lagrimas as vezes que encharquei a minha almofada de lágrimas com
choros compulsivos invadido por uma tristeza quase insuportavel.
Hoje com quase quarenta anos de idade olho para traz e recordo-me dessa altura, quando tinha treze anitos e
era o teenager mais triste do mundo. Ou pelo menos sentia-me assim.
Revoltado, cheio de
odio e mágoa, destroçado, acabado, sem vontade de viver.
Esses pensamentos outrora
meus, interiores, faziam-me sucumbir naquilo que parecia o Abismo dos Abismos,
e eu nunca entendi porquê…porque me sentia assim.
Mas o facto é que
este era o Miguel, este era aquele miúdo com carinha de anjo. Um revoltado,
triste, quieto com más notas de aprendizagem e com Muito Bom a comportamento.
Por essa altura o
meu mundo era negro e escuro, sombrio e o passado já marcava a minha
existência.
Mas era interior não demostrava ao mundo o meu vazio o meu terror.
Às vezes tenho
orgulho de mim, por tudo aquilo que consegui ultrapassar porque mesmo sendo
interiormente destabilizado, tive controlo.
Querem ouvir o quê,
sobre o abuso sexual? Ou sobre os maus tratos?
Querem que comesse
por onde afinal? Ouvir como tudo começou?
Como me tornei
assim?
Ou entro já a matar
e falo-vos como é que a heroína e cocaína me foram apresentadas?
O fiasco da minha
vida. Teria sido um bom título de livro, ou… O retrato do meu cansaço. Este que
expõe tudo menos o que é positivo, abraçado num mundo de dor e de tremor
constante.
A morte para mim era
um desejo. Uma ambição. Enquanto ouvia de outros histórias de alegria, eu, ficava-me
pelo silêncio e deitei-me com ela e desejei-a durante noites sem fim.
Afogava-me em
soluços e adormecia em meio á dor e rancor, consumia-me a alma e arrastava-me
no mais profundo mar de caos.
Perdi-me no que
queria ser, pois não queria ser, queria morrer, criança mas nunca vivi como
poderia eu viver se me sentia morto.
Contar a minha historia
de vida ao pormenor, isso não.
Já o fiz enquanto internado em clinicas
de doze passos, não tenho pachorra para isso.
Todo o meu percurso
foi um desperdício de vida. Isso mesmo um desperdício.
A única esperança
que me restava é que poderia mudar, e foi isso que me fez prosseguir.
O que me fez andar
foi eu olhar e ver o sorriso de outras crianças e me imaginar a igual, tal qual
essa possibilidade de um sorrir.
Mas o tempo foi
passando e eu nunca melhorei pelo contrário, transformei-me num ser mediano,
nem mau nem bom, uma coisa sem sal, estéril.
Interiormente lá bem no fundo a esperança …a vontade
de salgar.
Continuei a
empurrar a vida, continuei um pouco mais calmo de pensamentos negros a seguir
em frente, a acreditar que podia ser melhor.
O passado deveria
ser passado quando ele não reflete o presente, e o presente da altura era descobrir
o que me havia tornado.
Muitos dos abusados
abusaram, mas eu nunca o fiz, nunca sequer me passou pela cabeça, tinha
tendências diferentes, procurava segurança e coisas impossíveis.
E, em meio a
ilusões vivi momentos prazerosos que não me arrependo.
Esta nova pessoa
estava a tornear-se , e era melhor ser esta do que aquela que outrora os
pensamentos macabros quiseram que eu fosse.
Mas, mesmo neste os meus
caminhos eram errôneos e amadores. Amei, ou pensei que amei, e pensei que fui
amado mas o que tinha eram momentos.
Mais abusos , agora
permitidos por mim, conscientes, mas abusos.
Escondia o que era,
ou o que odiava ser porque se outrora fui como um boneco nas mãos de quem
deveria ser mãe, era inadmissível o que me tornara.
Escola já havia
passado e a única coisa que ficou foram companhias da prata onde heroína
escorria sobre esta e me acalmava a dor de quem era...
Mas o que eu queria
era a anestesia, porque no final do ato quando puxava as calças para cima a única
coisa que ficavam eram fluidos extra e pensamentos de derrota e abandono
ligados aos que toda a vida vivi e não me largavam.
Fugir de mim mesmo
seria essa a melhor solução? Foram tantas as vezes que pensei que fugia mas eu
estava lá, eu era o ator do palco principal da minha existência. Fui para
longe. Nunca tinha abandonado Lisboa, fui só e apenas para fugir. Fugir do
estanho e da gota negra que me assombrava. Mas a única coisa que encontrei foi
mais solidão e vazio.
Respostas para mim ainda não existiam, parece que estava
a pagar por aqueles horríveis pensamentos que me assombraram quando jovem
estupido. Como se uma maldição.
O Amor falso
desapareceu, e nunca apareceu nenhum real, também não estava a procura disso,
fiquei mais pela busca do anestético que me tapava a dor. E sempre que fazia um
tubo para dar um bafo de opio era para mim uma vitória.
Só Deus sabe como
me arrependo dessa maldita escolha, nunca eu imaginei, a sério. Nunca eu
imaginei as voltas que ainda ia dar de "cavalo".
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Olá às vezes posso passar alguns dias sem vir ver o teu comentário mas venho frequeentemente, por isso assim que puder dou um feed back, tem coragem e bom animo...tu é capaz